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Analógica ou Química?

Em julho de 2005 a editoria de cultura do jornal Correio Popular, publicou uma matéria que fazia uma reflexão sobre as consequências da introdução da fotografia digital, complementando a matéria fui convidado a escrever sobre o assunto. Nesse artigo pela primeira vez utilizei o termo “fotografia química” em contraposição ao termo “fotografia analógica”. Não afirmo que fui o primeiro a usá-lo, afirmo apenas que a ela assim me referi pela primeira vez nesse artigo. Reproduzo aqui um excerto (editado) das ideias daquele artigo.

“A fotografia digital sucede a fotografia química. A componente óptica da fotografia continua inalterada em sua base. Saem de cena o filme, o revelador, o interruptor, o fixador e todo o equipamento de laboratório. Entram em cena os cartões digitais e os editores digitais de fotografia, o atual 'laboratório fotográfico'. Essa tecnologia ampliou o alcance da arte fotográfica. Eliminando o custo por disparo, o fotógrafo ganhou liberdade para experimentar.

Nessa transferência tecnológica, o laboratorista foi a vítima no mercado de trabalho. Sua função passou a ser exercida diretamente pelo fotógrafo, que tem agora o controle total no tratamento da imagem. Assim tem sido em outras áreas nas quais as tecnologias da informática ampliam seus espaços.

Considero também como importante nesse processo de substituição tecnológica a eliminação do arsenal químico. ... A fotografia digital libera a arte da fotografia desse inconveniente ambiental”.

(Correio Popular, Caderno C, 10 de julho de 2005)

Analogia é a relação de semelhança entre objetos, fatos ou ideias distintas. Quando surgiram os relógios digitais foi necessário identificar a diferença entre o novo relógio digital e o relógio tradicional e essa distinção foi baseada nos mostradores dos dois, o digital mostrava os números e o tradicional mostrava os ponteiros. No relógio tradicional a leitura se faz pela posição dos ponteiros: o das horas realiza um giro completo em 12 horas e o dos minutos um giro em uma hora. Eis aí a analogia entre as horas e a posição do ponteiro no seu movimento de rotação. O termo analógico contaminou muitos outros sistemas tradicionais substituídos na introdução de sistemas digitais.

Mas o que há de analógico naquela fotografia que tinha o filme como base?

Por não identificar qualquer coisa que justifique o uso do terno “analógica” prefiro usar “fotografia química” para a fotografia baseada em película fotossensibilizada, banhos químicos de revelação, interrupção e fixação e cópias fotográficas em papel fotossensível, e de novo mais banhos químicos.

Com isso não tenho intenção de mudar a maneira como outros se referem, apenas justificar a maneira como me refiro à velha fotografia tal como era quando iniciei minha carreira nessa técnica e nessa arte.

Mario Lucio Sapucahy
Mário Lúcio Sapucahy é repórter fotográfico, geógrafo e se apaixonou pela fotografia ao ver pela primeira vez uma imagem surgir quimicamente numa bacia de revelação no inverno de 1974.